A sala de aula é um espaço interessante e de muita criatividade. Muitos descobrem habilidades que nem imaginavam que tinham, outros entram com a certeza que revolucionarão o mundo e tem aqueles que vão porque são obrigados pelos pais. É um encontro de diversidade, e o professor um mestre em contornar situações inusitadas.
Certo dia ouvi de uma educadora uma de suas quase proezas em sala. Bom, foi um feito momentâneo. A mulher jovem, de cabelos loiros e longos, começou a falar de sua rotina com os seus alunos do ensino fundamental. Ela estava sentada em um banco de madeira no corredor de uma faculdade, enquanto aguardava o horário para entrar e fazer um novo vestibular, dessa vez, para história. A vida de pedagoga já estava cansativa, segundo seus relatos.
Um dia, no contraturno, a atividade com os alunos seria de artesanato, eles fariam cestas com canudinhos de revistas e jornais. Porém, não tinha cola. “Um aluno disse: cola com cuspe, e foi isso que fizemos”. A ideia funcionou na hora, mas no outro dia todo o trabalho feito pelas crianças havia sido perdido. Os canutilhos se abriram. “Mas o quê eu iria fazer durante uma tarde toda com aquelas crianças? Tinha que inventar. No outro dia, levei a cola que comprei com o pouco que ainda restava do meu salário e aí conseguimos concluir as cestas”.
No mundo das crianças, as soluções são simples. A falta de cola não foi motivo para cara fechada e tão pouco para ficar ocioso, foi motivo de descontração, não sabiam que saliva colava. Mas isto não é coisa de se aprender na escola, cestas de canudinhos de jornal são feitas com cola e com não cuspe.
Da próxima vez que ouvirem algum desaforado dizer que vão ter que colar algo com cuspe, eles não saberão que não passa de uma brincadeira, acrescentarão que já colaram até uma cesta inteira. Tudo bem que a cesta se desfez com o pôr do sol, horas depois de a porta da sala ser fechada pela professora, que ficou surpresa com a atitude do aluno e decepcionada com o Estado que se propôs a instalar ensino integral e não ofereceu o mínimo, como uma cola.
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