O mercado de trabalho não quer pessoas obesas. Foi a essa conclusão que a pós-doutora em Psicologia Social (UERJ) e doutora em Psicologia Clínica (PUC-Rio) Joana de Vilhena Novaes chegou ao colher entrevistas para escrever o livro O intolerável peso da feiura. Sobre as mulheres e seus corpos (Editora PUC/Garamond).
A estudiosa, que está em contato com o tema há mais de dez anos, conversou com cerca de mil pessoas entre mulheres, médicos e outros especialistas para entender como o sexo feminino enxerga o próprio corpo e a que sacrifícios e mudanças se submete para atingir o padrão vigente.
Na obra, foram aproveitados os depoimentos de 300 mulheres entre 15 e 60 anos, que moram em bairros da zona sul do Rio de Janeiro e pertencem à classe média alta. “Ficou muito claro que feio não é quem tem os dentes, a pele ou o cabelo ruins. É quem é gordo. E quem está acima do peso, de acordo com essa visão geral, não consegue gerenciar a própria vida, o que o torna inapto para o mercado de trabalho, inclusive”.
Confira a entrevista que ela concedeu ao iG Empregos.
Como surgiu a idéia de fazer a pesquisa, que resultou no livro?
Joana de Vilhena Novaes – O objetivo era entender como as mulheres viam o próprio corpo e o que fazem para reformatar essa imagem de acordo com o padrão que elas julgam mais adequado. Entrevistei mais de mil pessoas e, no livro, constam 300 depoimentos de mulheres entre 15 e 60 anos, pertencentes à classe média alta do Rio de Janeiro.
E como elas se veem?
Joana – De forma geral, quem é ou está acima do peso é considerado feio. E acima do peso é aquela mulher que está muito bem, mas acha que precisa perder alguns quilos ou até quem realmente necessita de uma dieta, sobretudo por questões de saúde. Todas elas têm enormes prejuízos no campo amoroso, social e profissional. A gordura é a forma mais representativa da feiúra.
De que forma se dão esses prejuízos?
Joana – Têm dificuldades para arrumar namorado, para freqüentar espaços públicos, como ir à praia e até mesmo para conseguir empregos, promoções e, logicamente, aumento de salário.
Como o peso pode influenciar na carreira de uma pessoa?
Joana – Vivemos num mundo em que a aparência é fator de muita importância. O padrão é valorizar pessoas magras e aliar o baixo peso a profissionalismo e sucesso. Meu foco não era estudar os reflexos no trabalho, mas foi inevitável. As mulheres diziam que pessoas gordas ganhavam menos. Pesquisei e encontrei diferenças salariais de até 40%. Elas diziam também que havia muito incentivo para perder peso, e quem conseguia, ganhava recompensas financeiras, inclusive.
Mas então a senhora quer dizer que há conivência da área de Recursos Humanos?Joana – Sim, o que é algo muito chocante. Entrevistei pessoas de RH que me diziam, anonimamente, que recebiam a orientação velada de não contratar gordos, mesmo quando o currículo fosse melhor e o perfil mais adequado à vaga. Eles são instruídos a dar uma desculpa e a dispensar. O gordo, segundo esse preconceito, é visto como uma pessoa desleixada, lenta, menos produtiva e potencialmente doente. Dessa forma, acredita-se que ele faltará mais no trabalho, se aposentará mais cedo e será sempre mais oneroso. Quando a oferta inclui plano de saúde, a empresa imediatamente associa a custos mais elevados. Na concepção vigente no mercado, por estar acima do peso, a pessoa é incapaz de gerenciar a própria vida. Logo, é incapaz de administrar uma equipe, um projeto ou uma empresa. É considerado até mesmo mal-educado. Cuidar da aparência faz parte dos itens para aumentar a empregabilidade, além de conhecimento e experiência.
Isso acontece em ambos os sexos?
Joana – Sim, mas é mais cruel com as mulheres. Elas diziam que o homem gordo é menos criticado. A gorda é vista como relaxada, independentemente dos motivos que causaram os problemas com o peso. É um julgamento moral. O mundo não foi feito para gordos. No Brasil, a população vem ganhando peso sistematicamente, principalmente nos grandes centros, e o preconceito aumenta no mesmo ritmo. É muito cruel, quase insuportável.
Fonte: IG
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