Hoje (21/01), os maiores portais de notícias do Brasil reproduziam uma matéria da agência internacional de notícias Reuters. Logo em seguida li em outro site no Deutsche Welle com uma abordagem muito diferente. O que me impressionou é que este site com sede na Alemanha se preocupou mais com a situação dos pescadores brasileiros a própria impressa nacional que se contentou em reproduzir um material pronto.Confiram os dois textos!
ThyssenKrupp eleva investimento no Brasil para US$ 7,3 bi
Reuters
A ThyssenKrupp informou nesta quinta-feira que seu conselho de administração elevou investimentos em usina siderúrgica no Brasil para 5,2 bilhões de euros (US$ 7,39 bilhões) ante 4,7 bilhões de euros anteriores, o segundo aumento em cinco meses.
A companhia também divulgou que a maior parte de seus negócios registrou lucro no primeiro trimestre fiscal, permitindo ao maior grupo siderúrgico da Alemanha olhar para os próximos meses com otimismo cauteloso.
O presidente-executivo, Ekkehard Schulz, disse em reunião anual com os acionistas que as metas de lucro do grupo no atual ano fiscal até setembro de 2010 devem ser atingidas, graças a agressivos cortes de custos e medidas de reestruturação.
A empresa ainda elevou os investimentos em uma usina de aço inoxidável nos Estados Unidos em 10 por cento, para US$ 3,6 bilhões. Um investimento adicional de US$ 1,4 bilhão em uma usina de aço inoxidável adjacente nos EUA, que a empresa está adiando por dois anos, continua sem alterações.
Com essa leitura se tem a compreensão que é mais um investimento de uma multinacional. A matéria a seguir fala da mesma empresa, porém, foi feita por outra empresa de comunicação, com sede na Alemanha, onde está a sede da ThyssenKrupp. Mais uma vez leiam, o texto é longo, mas no final terá outra opinião.
ThyssenKrupp é alvo de críticas de pescadores brasileiros
Deutsche Welle
Pescadores da comunidade da baía de Sepetiba, no Rio de Janeiro, são contra a construção de um bilionário complexo siderúrgico e querem agora chamar a atenção dos alemães para o seu protesto.
Luis Carlos Oliveira, 50 anos, é pescador desde os 9: nasceu no estado do Rio de Janeiro, numa região entre os rios São Francisco e Ingá, que fazem parte da baía de Sepetiba. O local, segundo o Instituto Estadual do Ambiente, órgão do governo do estado do Rio de Janeiro, é um criadouro natural para diversas espécies em suas áreas de mangue e zonas estuarinas, sendo a atividade pesqueira um importante suporte econômico e social para a região.
Acompanhado por um pequeno grupo de brasileiros, Oliveira está na Alemanha para brigar contra uma gigante da área da siderurgia, a multinacional alemã ThyssenKrupp.
O pescador representa outros 8 mil colegas de profissão que atuam naquele local e que têm, em comum, posição contrária à instalação da nova fábrica siderúrgica da Thyssen na cidade de Santa Cruz, região da baía de Sepetiba.
O grupo de Oliveira partipará da assembléia geral dos trabalhadores da Thyssen nesta quinta-feira (21/01) na cidade de Bochum e também conta com o apoio da Associação de Acionistas Críticos, organização alemã que briga por melhores condições de trabalho.
Segundo Makus Dufner, diretor da associação, a empresa já foi questionada há seis semanas pela entidade. "A administração e o conselho não ficarão livres de explicar o que se passa no Brasil", declaou Dufner à Deutsche Welle.
O protesto dos pescadores tem vários capítulos e agora busca apoio da sociedade alemã.
Impacto negativo na comunidade local
Segundo narra Oliveira, a chegada do empreendimento bilionário ao local transformou a vida da comunidade. Os pescadores reclamam que o primeiro impacto foi sentido quando começou a drenagem da área: naquela região, em 1996, houve um grande vazamento de metais de uma empresa que falira, a Ingá. O acidente causou desastre ambiental, mas, com o passar dos anos, os metais se sedimentaram e o ecossistema começou a se recuperar.
"As máquinas de drenagem, ao revirar o fundo da baía, fizeram esse metal voltar a circular na água. E ali é uma região de desova de peixes e de crustáceos. Com isso, a pesca caiu 80%", afirma Oliveira.
Segundo o líder da comunidade, a renda média de um pescador era de três salários mínimos por mês, mas agora a pesca não é mais viável. "Um pescador ali na baía tem outras cinco pessoas na família, em média. Contando tudo, são quase 48 mil pessoas prejudicadas porque não conseguimos mais pescar."
Por conta das denúncias, o empreendimento da Thyssen chegou a ser embargado em 2007: segundo documento do Ibama, a obra destruiu sem autorização uma área de dois hectares de vegetação de mangue, considerada de preservação permanente. A empresa também foi multada em 100 mil reais.
Atualmente, há nove processos na Justiça Brasileira contra a ThyssenKrupp, exigindo pagamento de indenização para 9 mil pescadores.
Ameaças de morte
Luis Carlos Oliveira, líder das manifestações, vive sob tutela do programa de proteção aos defensores dos direitos humanos do governo federal brasileiro. "Eu tive que me mudar e deixar a minha família pra trás. Eu fui ameaçado de morte várias vezes. Carros passavam em frente à minha casa dando tiros para cima, eu recebia ligações anônimas durante à noite", narra Oliveira.
O pescador acusa um funcionário da segurança do canteiro de obras da Thyssen de ser o responsável pelas ameaças. O homem passou a ser investigado pela polícia por ser suspeito de fazer parte de um grupo de milícia que agia na região. O caso recebeu atenção da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, presidida pelo deputado Marcelo Freixos.
A Thyssen informou que conduziu uma investigação própria e que não encontrou "qualquer indicação que baseasse as alegações contra o empregado", segundo a resposta enviada à Deutsche Welle. Ele deixou a empresa em novembro passado no âmbito de um programa de reestruturação, diz a Thyssen.
Thyssen nega acusações
Por meio de um documento enviado à Deutsche Welle, a empresa negou todas as denúncias, classificadas como infundadas. Destacou que o empreendimento tem apoio do governo brasileiro e que cumpre as normas da legislação nacional.
A empresa informou que recebeu da Secretaria de Meio Ambiente do Rio de Janeiro, em dezembro de 2009, um documento que atesta que o empreendimento segue as normas exigidas pelo estado.
Sobre a multa cobrada pelo Ibama, a Thyssen alegou que a destruição do mangue foi causada por uma empresa terceirizada e que a multinacional fez um programa de reflorestamento da área.
Segundo a empresa, os opositores ao projeto correspondem a uma minoria da comunidade da baía de Sepetiba, e que apenas 10% da população local vive da pesca.
Projeto de 4,5 bilhões de euros
O complexo siderúrgico na Baía de Sepetiba vai custar 4,5 bilhões de euros, dinheiro investido pela ThyssenKrupp CSA Siderúrgica do Atlântico com recursos do BNDES, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social.
As obras começaram em 2005 e a unidade deve iniciar a produção até meados deste ano, com capacidade anual de produção de 5 milhões de toneladas de placas de aço.
Segundo a Thyssen, o empreendimento, o principal da empresa no Brasil, vai gerar 3.500 empregos diretos e outros 10.000 indiretos. Cerca de 60% das placas produzidas no Brasil serão irão para mercado norte-americano e o restante da produção será processada nas unidades alemãs da empresa.
Autora: Nádia Pontes
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E como fica os pescadores e suas famílias? Como fica o meio ambiente? Já deu para perceber que o tal investimento será feito com dinheiro brasileiro. Mas, outra dúvida que persiste é por quê a imprensa brasileira não visitou a baía de Sepetiba, no Rio de Janeiro?
Essas duas matérias mostram a divergência de interesses. É isso que quero deixar registrado.
Tive a impressão que continuamos colônia, mas com a diferença que agora pagamos para manter os exploradores. Recebem capital brasileiro, “investem” ou talvez fosse melhor "exploram" e depois exportam, mais tarde a mesma mercadoria volta ao Brasil em forma de novos produtos com preços absurdos.
1 comentários:
É isso. Os grandes veículos constroem uma realidade baseada em seus interesses comerciais. No Brasil, existem jornais que divulgam a versão da Reuters, quando o assunto é noticiário internacional.
Para saber muita coisa que esses veículos escondem, eu busco blogues como o Conversa Afiada, O Escrevinhador, Luis Nassif e Vi o Mundo.
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