Tempo, tempo, tempo



Quando nasci não tinha noção do tempo em que nascia. Não sabia se era verão, primavera, outono ou inverno. Não sabia se era de manhã, de tarde ou de madrugada. Isso parecia não ter importância. Ainda não me preocupava com o tempo. Hoje sei que foi às 10h22 de um domingo de primavera em 1984. Saber disso não muda muito. Na verdade, não muda nada.

Não é bem assim. Os astrólogos dizem que muda. Também diz uma lenda que as pessoas que nascem no dia 9 e em um domingo têm uma intuição mais aguçada. Tudo bem. São só detalhes. Mas o fato que alguns anos depois de ter nascido comecei a perceber o tempo. E me lembro de vozes que me perguntavam o que eu iria ser quando crescer. Sinceramente, não me lembro das respostas.

Lembro vagamente dos sonhos que tinha para mim. Dentre eles já sonhei em ser uma exímia bailarina do Bolshoi. Até hoje ainda me encanto com a leveza das bailarinas. Sonhei em ser aeromoça, antropóloga, geógrafa, historiadora, jogadora de vôlei, socorrista, bombeira, juíza, promotora, policial federal. Com o tempo percebi que ser policial não era um bom negócio, porque de repente teria que matar alguém ou poderia morrer brutalmente. Tudo bem que quem morre mais são soldados do PM. O fato é que desisti.

Mais alguns anos e também desisti de ser bombeira. Não lembro mais o motivo. Nem sei se desisti. Socorrista ainda está num plano distante. Jogadora de vôlei, só nas brincadeiras. Não sei se não cresci para tal ou se o sonho não passou de uma vontade passageira.

Historiadora, bom estou estudando para isto. Cheguei a pensar que não tinha passado de um desejo, e de repente encontrei uma oportunidade para fazer. A vida é engraçada, nos coloca diante de cada coisa. Com história acredito que o gosto por antropologia e geografia acaba se interligando. Agora, aeromoça está realmente descartado. A bailarina ainda valseia nos meus sonhos com passo mais firmes como a de uma dançarina de tango. Ah, o tango me fascina.

Ainda não sei quando terei tempo para iniciar as aulas de tango, de inglês, espanhol, alemão, teatro, as sessões com a fonoaudióloga, volta à academia... Já se passaram quase 25 anos, nesse tempo, vive um monte de coisa que sonhei e outras que nem imagina como ser jornalista. Pensando bem, vive mais das não planejadas.

Mais se tem uma coisa que ainda não aprendi a controlar é o tempo. Cada dia, cada momento, soa de forma diferente que o relógio não capta. Junto com o tempo vêm os cheiros, as emoções, os sabores. Talvez o tempo cronológico seja o único que não escapa do relógio. Todos os segundos são anotados por ele. E nós anotamos o tempo social, psicológico, o que nos faz viver e nos esculpe.

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