Negritude: ainda falta consciência e sobra luta


Nariz largo, olhos amendoados, queixo proeminente, lábios salientes estes são alguns detalhes que compõem a face da primeira brasileira, a Luzia, moradora de Lagoa Santa (MG). Passados mais de 11.500 anos, os traços de Luzia continuam a moldar muitos semblantes. Em qualquer região do Brasil se deparará alguém com traços negróides. Talvez, encontre este alguém ao se olhar no espelho, mesmo sem consciência da ancestralidade afro, as evidências estão na cara.

Luzia é um caso de estudo científico, o achado arqueológico de Walter Alves contradisse a teoria que os primeiros moradores desta terra teriam sido os mongolóides, ancestrais do índio brasileiro e latino americano. Não se sabe ao certo quem aqui chegou primeiro, mas o brasileiro deveria saber que tem muito mais do negro e do índio do que imagina. Na Bahia, por exemplo, 78,8% da população são de negros, no Amazonas, 78,3% e no Amapá 78%.

Às vezes, a pseudo-supremacia européia ofusca e suprime os costumes que deveriam ser valorizados. Hoje, 20 de novembro, dia da Consciência Negra, secretarias de educação e cultura organizaram algumas e quase irrisórias ações. São mostras culturais com roda de capoeira, cartazes com detalhes de obras de arte africanas, outros com divindades e outros com pratos típicos. Também têm alguns colégios, entidades e instituições que montaram espetáculos de danças no ritmo dos tambores africanos.

O ritmo da África deveria ressoar com mais frequência neste território que foi desenhado por mais de 10 milhões de mãos vindas diretamente do continente africano. Ações que promovem a valorização e a inclusão da cultura africana em nosso cotidiano deveriam ser constantes. Algumas medidas governamentais já foram tomadas como a aprovação da Lei 10.639/03, que estabelece a obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana na Educação do Ensino Fundamental e Médio. No entanto, muitos professores desconhecem o assunto e os núcleos de educação também não trabalham para a verdadeira efetivação da lei.

As cotas raciais nas universidades, concursos públicos são muito criticadas, mas elas não seriam necessárias se os negros e negras não vivessem excluídos, se o modelo de cidadania proposto pela Constituição Federal tivesse nesses 20 anos se efetivado. Mas, nesse processo de conquista e independência ainda há muito a se fazer. Negros e brancos ainda não foram alforriados na totalidade. Enquanto a segregação for velada será preciso criar leis para garantir os direitos básicos. Talvez, algum dia nenhuma pessoa seja mais julgada pela sua origem racial e sim pela sua conduta.

Mas, enquanto isso as desigualdades tem que ser combatidas como está: “a remuneração média de trabalhadores brancos foi 90,7% maior que a de pretos e pardos em setembro, último dado disponível, aponta estudo do economista Marcelo Paixão baseado na Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, que reúne dados sobre as seis maiores regiões metropolitanas do País. Desde o início da crise econômica global, o auge da desigualdade entre os dois grupos no mercado de trabalho tinha sido registrado em fevereiro, quando a renda dos brancos era 102% superior” (Último Segundo). Realmente ainda há muito que fazer. E o espírito guerreiro de Zumbi tem que persisti por no mínimo mais 120 anos. Quem sabe daqui a um século as coisas estejam um pouco diferente e os princípios da Constituição sejam palpáveis a todos.

Foto: site UOL


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