Do riso ao pranto

Alegria e a tristeza são sentimentos que distinguem momentos. Antônimos não dividem o mesmo tempo e espaço. Um entra quando o outro sai. A harmonia entre essas duas palavras é o segredo para uma vida equilibrada. Oscilações acentuadas entre esses dois sentimentos pode ser um sinal de alerta que o seu emocional precisa de cuidados. Verificar as causas é essencial para descobrir se é um simples estresse ou se trata do transtorno bipolar. Doença crônica caracterizada pela perturbação do humor. “É a alternância de estados de extrema euforia para estágios depressivos”, explica a psiquiatra Karla Tatessuji, de Apucarana.



Fase depressiva

 
A psiquiatra explica as diferenças entre a alteração comum de humor e a bipolar.  “A tristeza, por exemplo, é duradoura”, assinala. Segundo a especialista, a pessoa tende a ficar cabisbaixa, com sentimentos de inferioridade. A capacidade física também fica comprometida, pois a sensação de cansaço é constante. “O sono já não satisfaz mais, fazendo com que o paciente fique indisposto”, salienta.

Pode ocorrer, em algumas situações, de o paciente permanecer muito tempo na cama, evitando fazer seus cuidados de higiene. Também pode ter perturbações de apetite, levando a perda ou aumento de peso, e o isolamento social é notório.  Além disso, em casos graves, pode ocorrer alucinações auditivas e visuais.
O transtorno também atinge o intelecto. “As ideias fluem com lentidão e dificuldade. A atenção é difícil de ser mantida”, observa. Karla ressalta ainda que o interesse pelos afazeres diários em geral é perdido.  O prazer na realização daquilo que antes era prazeroso também se perde.  Essas são algumas caraterísticas da fase depressiva. O estado maníaco, que em psiquiatria significa estado de humor exaltado, é o oposto.


Fase maníaca
 
Na fase mania, ou seja, de euforia, encontram-se a elevação da autoestima, sentimentos de grandiosidade, podendo até chegar a manifestação delirante de grandeza, segundo a psiquiatra.  Em alguns casos, conforme ela, a pessoa se sente especial dotada de poderes e capacidades únicas, como telepatia.
Ainda na fase maníaca ocorre o aumento da atividade motora apresentando grande vigor físico, ao mesmo tempo, que a acontece a diminuição da necessidade de sono.  “O paciente pode apresentar aceleração da fala, como falar muito ou rápido demais. As ideias correm rapidamente a ponto de não concluir o que começou e ficar sempre emendando uma a outra não concluída em outra sucessivamente. Esse quadro é diagnosticado como fuga-de-ideias”, afirma.
Apesar de tantos sintomas aparente, o diagnóstico correto pode levar anos.  Ela explica que uma pessoa que tenha uma fase depressiva, recebe o diagnóstico de depressão e dez anos depois apresenta um episódio maníaco. “Só a partir dessa constatação vai chegar ao verdadeiro diagnóstico: o transtorno bipolar”, frisa.  O diagnóstico é clínico, baseado na história do paciente e nos sintomas apresentados, acrescenta a psiquiatra. 


Disposição genética

 
O transtorno bipolar não escolhe sexo, raça ou classe social. Para a psicóloga Milena Mello, de Apucarana, a doença causa grande impacto na vida do paciente e da família, causando um grande sofrimento psíquico. Entretanto, é relativamente comum, segundo a profissional, acometendo aproximadamente oito a cada cem indivíduos, manifestando-se entre homens e mulheres.  “Geralmente, os homens pensam que este transtorno atinge só as mulheres, mas estão errados. O fato é que as mulheres costumam se analisar mais, consultar médicos frequentemente, enquanto os homens acreditam que estão bem”, avalia.
Segundo ela, o transtorno torna o indivíduo mais vulnerável ao estresse, a primeira crise do sujeito pode vir a ocorrer devido a um choque emocional muito forte, como uma perda afetiva, como morte ou divórcio. De acordo com Milena, em muitos casos as pessoas que possuem este transtorno apresentam um histórico familiar de transtorno bipolar. Estima-se que cerca de 60% dos casos estejam ligados a fatores genéticos.


Faixas etárias

 
A psicóloga alerta que a doença pode aparecer na infância, com sintomas de irritabilidade, impulsividade intensa. “Um terço dos indivíduos manifesta a doença na adolescência, e quase dois terços até os 19 anos de idade, alguns casos, podem vir a ocorrer após os 45 anos em mulheres, porém raramente acontecem após os 50 anos”, pontua. Conforme ela, cada indivíduo pode reagir de forma diferente frente à doença, uns podem ter uma ou duas crises a vida toda, enquanto outros podem ter recaídas várias vezes ao ano.

Tratamento
 
De acordo com Milena, o transtorno bipolar, após diagnóstico preciso, pode ser tratado de forma terapêutica apropriada, antidepressiva, antimaníaca ou antipsicótica, como prevenção das crises de humor. Para que o tratamento seja eficaz é necessário, conforme a psicóloga, um acompanhamento psiquiátrico, envolvendo medicações chamadas de estabilizadores de humor. “Esse processo associado ao trabalho psicoterapêutico, poderá ser benéfico à intervenção psicológica ao paciente e também a família”, defende.
O transtorno não tem cura. Entretanto, não impede uma vida normal.  “O tratamento adequado permite uma vida normal na maior parte dos casos”, garante a psiquiatra Karla Tatessuji. Segundo ela, é difícil fazer uma previsão sobre a necessidade ou não de medicações para o resto da vida de um paciente. “Isso vai depender da gravidade da doença”, ressalta.
A família pode ser uma grande parceira durante o tratamento e também para o paciente aceitar a doença, de acordo com a psiquiatra.  “A família, assim como amigos e companheiros, devem estar atentos a qualquer mudança de comportamento e orientá-lo a procurar tratamento, sem julgar o seu comportamento e entendendo que se trata de uma doença e não ‘loucura’”, orienta.

Matéria publicada na Revista UAU! - Jornal Tribuna de Apucarana

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